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Autor conta a história do funk carioca em romance

  • Foto do escritor: maaatheusgomes
    maaatheusgomes
  • 7 de mar. de 2015
  • 4 min de leitura

Polêmico e marginalizado por alguns, envolvente e amado por outros, o funk carioca já conta com cerca de 40 anos história. Desde o inicio dos bailes na década de 70 até a recente explosão de cantores como Naldo e Anitta, a rica história do funk será contada no livro “A Lenda do Funk Carioca”, de Marcelo Gularte.

Gularte, que já tinha dirigido o documentário “MC Magalhães: Uma Lenda Viva do Funk”, conta que a ideia do livro surgiu após o lançamento do curta: “Muitas pessoas começaram a brincar comigo, dizendo que eu deveria escrever um livro sobre o Magalhães. Como minha intenção era fazer um filme de longa metragem não foi possível. Então, resolvi aprofundar minha pesquisa produzindo um livro romance”.

Em sua pesquisa, o cineasta e músico diz que contou não só com a ajuda de MC’s, mas também da massa funkeira: “Nesse trabalho me interessa muito o cara que frequentou os festivais de galera representando sua comunidade pelos quatro cantos do Rio de Janeiro, com a intenção de fazer com que ela fosse reconhecida, respeitada e sobretudo admirada por todos”.

Os festivais de galera - muito famosos na década de 90 - fazem parte de um período controverso da história do funk: nestes eventos, reuniam-se pessoas de várias comunidades que iam não só com a intenção de se divertir, mas de mostrar a identidade da sua comunidade. Porém, paralelamente a esses festivais, começaram a surgir os bailes de corredor, onde a diversão ficava em segundo plano e se abria espaço para a violência. O local do baile era dividido por uma corda em dois lados (A e B). Caso alguém ultrapassasse era atacado por membros do outro lado. Os inúmeros casos de morte nesses bailes acabaram por fazer o governo intervir e acabar com os festivais.

(foto dos Festivais da Galera)

No livro, Gularte procurou debater a controvérsia sobre quando se iniciou o movimento do funk carioca: “Tem uma vertente que defende a existência de quatro décadas de movimento funk no Brasil. Considerando os bailes da pesada do inicio dos anos 70, promovidos na casa de show Canecão em Botafogo, Zona Sul do Rio de Janeiro, como a gênese do funk carioca. E a outra vertente, liderada pelo pioneiro Luiz Carlos Nascimento, que antes do gênero se nacionalizar, foi a primeira pessoa a tocar funk numa rádio no Rio de Janeiro [...] Certa vez em entrevista Luiz Carlos Nascimento disse: ‘Baile funk começa nos anos 80, antes com os discotecários, tivemos o Soul e a Black Music.’”

Apesar da controvérsia quanto ao seu surgimento como estilo musical, a ideia de “baile funk” vem desde a época em que era tocado o funk norte-americano de James Brown. Quando o estilo foi perdendo popularidade, surgiu uma nova variação do gênero, o “Miami Bass”, que deixou a forte influência dos instrumentos e se estruturava em batidas eletrônicas. O estilo foi importado para o Brasil e começou a tocar nesses eventos. Para não perder a identidade, os organizadores resolveram manter o nome “baile funk”.

O primeiro passo para a nacionalização do funk foi em 1989 com o lançamento do disco “Funk Brasil 1”, de Dj Marlboro. O LP trazia entre suas músicas o famoso “Melô da Mulher Feia”. No mesmo ano ocorre o primeiro festival de galeras com a Furacão 2000, marcando o aparecimento de muitos Mc’s. Mas para Gularte o ano que marcou o estilo foi o de 1995 com o lançamento dos discos “Rap Brasil” 1, 2 e 3 : “É em 1995 que vamos ter um grande impulso produtivo no quesito indústria fonográfica[...] onde surgiram muitos Mc’s e houve um relativo investimento nesse segmento musical”.

(Capa do disco “Funk Brasil Volume 1”)

Nos últimos dois anos uma nova vertente do funk – o ostentação – ganhou força no país. Nessa variação do estilo, as letras falam sobre poder aquisitivo e marcas. Seus clipes tem uma predominância de carros, mulheres e bebidas.

Para o escritor, o estilo não chega a ser uma grande novidade: “a ostentação sempre esteve presente no cenário do funk carioca, porém essa concepção nunca tinha sido rigorosamente predominante na construção das letras, como vemos acontecer hoje com os Mc’s de São Paulo”. Gularte acredita que a ostentação é uma forma de distanciar o olhar analítico e critico de uma sociedade: “A ostentação não é uma exclusividade do funkeiro e nem do povão em geral, e sim, da elite brasileira. Os comerciais estão aí o tempo inteiro aliciando a população, a novela tão assistida e compartilhada está vendendo produtos, mostrando a opulência, e em muitos casos está agravando a desigualdade social do país”.

Questionado se o funk pode ser visto como um reflexo da vida nas favelas, Gularte diz: “A grande questão é que mesmo não tendo os axiomas básicos para viverem com um mínimo de dignidade e cidadania, o favelado por intermédio da linguagem do funk, conseguiu extraordinariamente criar uma estética musical própria da cultura brasileira.”

Inicialmente projetado para ser um livro de 200 páginas, “A Lenda do Funk Carioca” já passa das 300, mudança que atrasou o lançamento do romance de Maio para depois da Copa do Mundo: “Duas editoras estavam querendo publicar o livro até 200 páginas, agora com o dobro, tenho que conseguir outra”.

Além de “A Lenda do Funk Carioca”, Marcelo Gularte prepara o lançamento de mais dois títulos: o romance “Benvindo entre o vão dos livros” e do terceiro volume do livro de ditados populares “O dito pelo não dito”.

Veja o vídeo teaser do livro: “A Lenda do Funk Carioca”:


 
 
 

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